O Poder da Meditação
N° Edição: 2102 | 19.Fev.10 – 21:00 | Atualizado em 31.Mar.11 – 13:42
O poder da meditação
A técnica ganha espaço em instituições renomadas e prova
ser eficaz contra um leque cada vez maior de doenças.
Entre elas, a depressão, males cardíacos e até Aids.
Cilene Pereira e Maíra Magro
Hoje, está se transformando em um dos mais respeitados recursos terapêuticos usados pela medicina que conhecemos. Está se falando aqui da meditação, uma prática milenar cujo principal objetivo é limpar a mente dos milhares de pensamentos desnecessários que por ela passam a cada minuto, ajudando o indivíduo a se concentrar no momento presente. É por essa razão que um de seus benefícios é o de ajudar as pessoas a lidar com sentimentos como a ansiedade. Mas o que se tem visto, de acordo com as numerosas pesquisas científicas a respeito da técnica, é que a meditação se firma cada vez mais como uma espécie de remédio – acessível e sem efeitos colaterais – indicado para um leque já amplo de enfermidades: da depressão ao controle da dor, da artrite reumatoide aos efeitos colaterais do câncer.A inclusão da prática no rol de tratamentos da medicina ocidental é um fenômeno mundial. Nos Estados Unidos, por exemplo, ela figura entre as opções de centros renomados como o Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, um dos centros de referência do planeta no tratamento da doença. Também está disponível na Clínica Mayo, outro respeitado serviço de saúde. No Brasil, o método começa a ganhar espaço, boa parte dele assegurado pela Política de Práticas Integrativas e Complementares do SUS, implementada em 2006 pelo Ministério da Saúde. Ela incentiva o uso, pela rede pública, de uma série de práticas não convencionais – como a medicina tradicional chinesa, a acupuntura e a fitoterapia – para auxiliar no processo de cura. “Nessas diretrizes, a meditação está prevista como parte integrante da medicina chinesa”, explica a médica sanitarista Carmem De Simoni, coordenadora do programa.
para diminuir a ansiedade, que lhe provoca irritação e dor de estômago. “Depois de uma semana de prática,
fico mais tranquila e paciente.” Para ela, a técnica diminui o stress causado pelo excesso de trabalho
e pela vida na cidade grande. “É praticamente uma pílula de felicidade”, afirma
depois de testá-la por dois anos no setor de oncologia. Pacientes em tratamento contra o câncer, notamos uma diminuição na ansiedade e maior disposição para enfrentar a doença”, afirma o médico Paulo de Tarso Lima.
Ele é responsável pelo serviço de medicina integrativa no hospital, que promove a adoção de terapias complementares
– entre elas, a meditação auxiliar no tratamento convencional.
cultivar emoções positivas” diz Eileen Luders,
pesquisadora da Universidade da Califórnia
de dez anos atrás. Da mesma forma que o método das agulhas, ela conquista o respeito da medicina tradicional
porque tem passado nas provas de eficácia realizadas de acordo com a ciência ocidental. Isso quer dizer que,
aos olhos dos pesquisadores, foi despida de qualquer caráter esotérico, mostrando-se, ao contrário, um recurso possível a todos – ninguém precisa ser guru indiano para praticá-lo – e de fato capaz de promover no organismo mudanças fisiológicas importantesA profusão de pesquisas que apontam algumas dessas alterações é grande. Os resultados mais impressionantes
vêm dos estudos que se propõem a investigar seus efeitos no cérebro. Um exemplo é o trabalho realizado na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, e publicado na revista científica “NeuroImage”. Após compararem
o cérebro de 22 meditadores com o de 22 pessoas que nunca meditaram, eles descobriram que os praticantes possuem algumas estruturas cerebrais maiores do que as dos não praticantes. Especificamente, hipocampo,
tálamo e córtex orbitofrontal. As duas primeiras estão envolvidas no processamento das emoções. E a terceira região,
no raciocínio. “Sabemos que as pessoas que meditam têm uma habilidade singular para cultivar emoções positivas”,
disse à ISTOÉ Eileen Luders, do Laboratório de Neuroimagem da universidade. “As diferenças observadas
na anatomia cerebral desses indivíduos nos deram uma pista da razão desse fenômeno.”
ALÍVIO CONTRA O CÂNCER:
A prática faz com que os pacientes
sintam menos náuseas após a quimioterapia
Na publicação “Psychological Science”, há outro trabalho interessante. Pesquisadores da Universidade George Mason constataram que a prática proporciona uma melhora significativa na memória visual. Normalmente, uma imagem é armazenada integralmente no cérebro por pouquíssimo tempo.
Mas o estudo verificou que monges, habituados a meditar todos os dias, conseguem guardá-las – com riqueza de detalhes – até 30 minutos depois de praticar. “Isso significa que a meditação melhora muito este tipo de memória, mesmo após um certo período”, disse à ISTOÉ Maria Kozhenikov, autora do experimento. Essa habilidade transforma
a técnica em um potencial instrumento para complementar o tratamento de doenças que prejudiquem a memória,
como o mal de Alzheimer.
Artigo publicado em:
http://www.istoe.com.br/reportagens/51821_O+PODER+DA+MEDITACAO
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